Continuando a série de memórias, lembrando de quando eu era o cara da trufa.
Nesta foto eu e a Maira, prima do Wagner, com a famosa caixa de trufas na mão com a última sobrevivente do dia.

Durante alguns meses fiz esse trampo de vender as trufas que o Denis me fornecia. Fazia ali na escola e durante a tarde passava pelos comércios locais, até finalizar a caixa. Precisava daquela grana para poder comprar cigarro, tomar uma cerveja nas escapadas com os amigos e ajudar minha mãe com pequenas coisas. Mas me ajudou bastante ter tido essa experiência.
Acabei largando quando arrumei um emprego de lavador de carros. Algo que também durou alguns 2 meses. O trabalho era muito pesado. E eu tinha boas notas, muitos me aconselharam a deixar o trabalho. Mas também, ficar em casa com meu irmão era uma tortura.
Fone de ouvidos, topete, pulseiras feitas em casa, bermuda de Tactel, sempre a mesma. A camisa então, com o silkscreen da Mohawk Rosa, até caindo a tinta, esta literalmente andava sozinha.Eu confesso que haviam roupas que de tão duráveis, tinha até uns 5 anos atrás.
Sim, eu não ligo nem um pouco pra roupas e adereços. Visto o que preciso vestir, tenho minhas roupas favoritas. E geralmente só as tiro pra dormir. hahaha.
Mas a época das trufas foi boa época. de 94 ou 95 esta foto. Aprendendo a beber. Ouvindo Rock and Roll. Sempre tentando agradar a todos e não conseguir nenhuma. Realmente esta época da escola foi foda.
Da alegria de aprender a empreender a tristeza de ter que lidar com a Depressão.
Não sei posicionar hoje o que veio primeiro. Mas sinto que a depressão profunda que atingiu meu irmão, reverberou em mim de forma muito pesada. Ficava com medo de ficar igual. Tentava controlar meus pensamentos para evitar ficar como ele. Meditava já nesta época.
Não tínhamos acesso a informação como temos hoje. Víamos a depressão como uma doença qualquer, que a pessoa pega e depois passa. Mas não era uma gripe. Era algo que vinha da alma e perturbava a realidade de quem afunda em depressão, levando os que estão ao seu lado junto.
Eu vivi muitos meses amigo do meu fone de ouvido e de músicas que distraíssem meu pensamento para algo construtivo e não que me deixasse anestesiado e com outras necessidades. Por isso ouvia tanto e falava tão pouco sobre qualquer coisa. Lembro de quando meu irmão sumiu de casa, ter passado os intervalos nos corredores pensando na vida ou apenas sentado ouvindo os outros falarem.
Ninguém poderia se compadecer do pobre menino rico que tinha casa própria no Brooklin mas não tinha roupas novas. Era um paradoxo para muitos, pois o equivalente não se aplicava a minha visão limitada de vida. Mas tudo isso faz com que a amplitude de pensamentos fosse enorme.
Mas diante a tantas dificuldades e sempre tendo os amigos e as oportunidades sendo abertas pelo caminho, vou continuando neste caminho de ir aprendendo com o que vai me sustentando.
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